EM FOCO: O DILEMA DO CRIADOR


Quando o idealizador põe em xeque a existência do seu invento.
A culpa é de quem? Do idealizador, do invento ou de quem utiliza?


No flash-back de Franky, há uma importante fala do Tritão Tom, em que ele nos diz:

“Não existe uma única planta para um navio pirata neste mundo! Se os navegantes pintam uma caveira na bandeira, então é um navio pirata. Mas se eles pintam uma garça, é um navio da marinha. NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ CONSTRUA FRANKY, VOCÊ DEVE ENCHER O SEU PEITO COM UM DON.”

O Juiz responsável pelo caso de Tom-san, disse:
“Normalmente, carpinteiros não são responsáveis pelos navios que constroem. Mas se tratando do navio do Rei dos Piratas, esta é uma exceção.”
Após o incidente com os navios de Franky, o Tom-san reitera :
“Não importa o que o navio seja...Quando você começa a construí-lo... Ele não é bom e nem mau.”
O dilema vivido por Franky e que consumiu seu espírito e inibiu seus sonhos por um longo tempo, parece ter feito parte da vida de grandes personagens da vida real.

Quando bombas atômicas arrasaram Hiroshima e Nagasaki, o físico Albert Einstein foi chamado de responsável indireto pelas tragédias. A sua fórmula física E=mc² (energia é igual a massa vezes o quadrado da velocidade da luz). Trocando em miúdos, esta equivalência entre massa e energia (uma pequena quantidade de massa pode ser transformada em uma grande quantidade de energia) permite explicar a combustão das estrelas e dar ao homem maior conhecimento sobre a matéria. É a expressão teórica das enormes reservas de energia armazenadas no átomo na qual se baseiam os artefatos nucleares. Este tipo de energia tem utilidade na geração de eletricidade em usinas de vários países do mundo (considerada fonte de energia limpa), assim como também é utilizado na medicina, na produção de marca-passos para doentes cardíacos. Mas também foi responsável para a realização da bomba atômica, que destruiu duas cidades japonesas.

Em uma carta, Einstein diz:
“A descoberta das reações atômicas em cadeia não constitui para a humanidade perigo maior do que a invenção dos fósforos. Mas temos de empregar tudo para suprimir o seu mau uso. “
Apesar da grande notoriedade de Einstein e de sua contribuição indireta para a construção da primeira bomba atômica por meio da fórmula E = mc2, o cientista não participou diretamente do Projeto Manhattan (projeto da bomba atômica). Na ocasião, o Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos (Federal Bureau of Investigation – FBI) e a agência de inteligência do exército alegaram que Einstein não era suficientemente confiável, já que, desde sua chegada aos Estados Unidos, mantinha um discurso em favor do pacifismo e da união entre os povos.

No livro “Como Vejo o Mundo”, do próprio Einstein, ele destaca sua defesa pela paz: “Minha responsabilidade na questão da bomba atômica se limita a uma única intervenção: escrevi uma carta ao Presidente Roosevelt. Eu sabia ser necessária e urgente a organização de experiências de grande envergadura para o estudo e a realização da bomba atômica. Eu o disse. Conhecia também o risco universal causado pela descoberta da bomba. Mas os sábios alemães se encarniçavam sobre o mesmo problema e tinham todas as chances de resolvê-lo. Assumi, portanto, minhas responsabilidades. E, no entanto, sou apaixonadamente um pacifista e minha maneira de ver não é diferente diante da mortandade em tempo de guerra e diante de um crime em tempos de paz”.

Anos mais tarde, após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, realizados pelo exército americano em 6 e 9 de agosto, respectivamente, Einstein afirmaria que ter enviado a carta teria sido o “maior erro de sua vida”.

O transporte/lançamento das bombas para Hiroshima e Nagasaki, foi realizado por aviões americanos. Mas desde a Primeira Guerra Mundial, os aeroplanos eram utilizados para bombardeios.
Foi em 23 de setembro de 1906 que Santos Dumont, sob a assistência do Aeroclube de Paris, fez sua experiência com o 14 Bis. Ele foi o primeiro avião a voar no mundo. Quando o mundo se viu diante da primeira Guerra Mundial, Santos Dumont considerou que era sua responsabilidade pessoal, a destruição causada por zepelins e aviões. Seu sonho utilizado como arma militar, levou-o à depressão.

Em 1928 quando retornou ao Brasil, ficou muito abalado, na sua chegada por navio, quando o hidroavião ”Santos Dumont”, caiu matando todos os ocupantes.
Em 1932, ocorreu a Revolta Constitucionalista, em São Paulo, contra Getúlio Vargas. Aviões da União e de Minas Gerais bombardearam São Paulo. Santos Dumont em profunda crise, enforcou-se no banheiro, com uma gravata. Estava no Guarujá- SP.

Numa das mais recentes obras, do famoso criador do cinema da animação japonesa, Hayao Miyazaki, , intitulada “Vidas ao Vento” (Kaze tachinu), traz uma biografia ficcional do projetista aeronáutico Jiro Horikoshi (1903-1982). Jiro foi projetista-chefe da equipe que criou caças de estrondoso sucesso para a expansão japonesa sobre a China no final da década de 1930 e sobre grande parte do Pacífico Sul nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, os Mitsubishi A5M “Claude” e A6M “Zero”. O Zero foi muito famoso também por ter sido o principal avião utilizado pelos Kamikazes, sendo considerado, ainda hoje uma obra incrível de engenharia que marcou o início da tecnologia de alta precisão japonesa.
Durante toda história de “Vidas ao Vento”, Miyazaki mostra o dilema de Jiro na concretização do seu amor e do seu sonho em projetar aviões e a destinação deles para a guerra. Apesar da sua participação direta na formação aeronáutica da nação para a Segunda Guerra Mundial, Horikoshi se opunha fortemente ao que ele considerava como uma guerra inútil.

Na animação, Jiro diz:
“Não somos os fabricantes de guerra. Apenas queremos criar uma aeronave superior.”

Na animação, Jiro conversa com Caproni (um famoso projetista aeronáutico Italiano), em um sonho, é quando Jiro diz lamentar que seu avião esteja sendo usado para a guerra.

Num primeiro sonho com Caproni, o projetista italiano fala :

“Aeroplanos não são uma mercadoria, nem instrumentos de guerra. Aeroplanos são lindos sonhos. E ser projetista de aeronaves é torná-los uma realidade.”

Estas palavras de Caproni, casa bem com as proferidas pelo Tom-san ao Franky! 


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